Puxei
o vestido mais para baixo. Não que fizesse diferença. Meus pais não ligavam,
pra quê diabos eu ia ligar?
Não
sou diferente das outras garotas. Nem alta, nem baixa, cabelo castanho quase
preto, olhos verdes e magra.
Quase
metade das ancas mostrava ao menor movimento e eu não exatamente me importei.
Mais um copo de vodca e não, eu não estou me embebedando por causa de um cueca,
é só diversão, afinal, quem não quer beber um pouco na ultima noite do ano?
Meus
pés afundavam na areia da praia e eu senti meu celular vibrar, preso no sutiã
entre um peito e outro. Peguei dali e arrumei o decotão do vestido que usava.
Parecia uma blusa, mangas até o fim do antebraço, curto, não ia nem na metade
das minhas coxas e um decote que praticamente mostrava meus peitos. Marrom
metálico, lindo, perfeito. É.
–
Gugu onde você tá? Seu tratante! – Perguntei rindo contra o telefone celular. O
Gustavo riu do outro lado, entrando na minha brincadeira dos apelidos carinhosos.
–
Quase chegando, gostosa. Meu parceiro me atrasou. Foi mal.
Subi
no carro do meu cunhadinho-ex-namorado Samuel-Gostosinho-Para-Caralho-Ullman.
Eu
e o Gugu fazemos faculdade juntos. Administração. Claro que eu queria fazer
outra coisa, dança, fato! Mas quem discute com Carlos Ciqueira? Ninguém quer
contrariar o presidente da maior rede de farmácias do país, que posso fazer?
Aproveitei
a melodia sexy da música pra dançar sozinha. Eu estava sempre sozinha, não me
importava. Meu irmãozinho estava de pegas com a namoradinha virgem, que nem
ele, a Lince.
–
Tá vestida como, delícia?
–
Vestidinho curto, você vai ver.
–
Calcinha e sutiã espero.
–
Pra quê? – Ri alto quando ouvi o freio dele.
–
Tá de sacanagem, né Pat?
–
Claro que tô! Sou doida, mas nem tanto! Além do mais, já tô pagando calcinha,
não quero pagar de puta.
–
É… tá. – Ele despediu-se de mim e desligou o celular. Enfiei o celular no meio
dos peitos enquanto o Samuca vinha tentar me arrancar de cima do amado carrinho
dele.
–
Vem, Pat!
–
Ah não! – Me recusei, levantando os braços e balançando com a música. Ele foi
embora, sabia que não funcionava na pressão comigo. Todo mundo sabia, por isso
eles ficavam putos, eu mando e desmando, não tem o que discutir.
Ouvi
o carro barulhento e velho do Gugu e olhei na direção, acenando. Sabia que ele
tinha visto, porque ele acenou rapidinho e estacionou. A praia estava cheia pra
caramba, quando, a contragosto, desci nos braços do Samuca.
Ele
ainda puxou a merda do vestido para baixo, inocente. Até parece que não comeu
da mercadoria! E claro, minha priminha santinha me deu uma coca e tirou o copo
de vodca da minha mão.
Andei
pro Gugu e vi a chata da Camila descer e ficar com cara de criança com fome,
enquanto o namorado dela babava em mim. Claro, a criatura não bota nem um decote
depois reclama deu catar o namorado bonitinho dela!
Catei
mesmo, sua escrota!
Abracei
o Gugu e depois o João. Camila ficou me fuzilando só porque dei uma encostadinha acidental mais perto do que
deveria no homem dela. Nem me liguei nisso e olhei pro cara encostado no
carrinho do Gugu, um chevette até conservado.
E
cara! Tive que piscar, ele era bonitinho até demais. Como que o vacilão do Gugu
nunca me apresentou pra esse bofe?
–
Pat, tu não conhece meu parceiro ainda! Esse é o Leo.
–
Oi gatinha. – Ele me cumprimentou primeiro.
–
Miau. – Nós dois rimos e ele me deu aqueles dois beijinhos, mas o safado
aproveitou pra passar a mão da minha cintura até minha bunda, bem de leve.
Olhei
feio. Posso estar vestida como a vadia da vez, mas não sou!
Vi
o Gustavo todo embrumado do meu lado. Ele botou logo a mão na cintura, meio
marcando território e olhei pra ele sem entender.
A
gente não tinha nada. Nós éramos uma coisa estranha entre a amizade e os
amassos. O lance era se pegar sem compromisso, bem leve. Ninguém ficava
machucado.
Nos
conhecemos na faculdade. Meu primeiro dia, terceiro dele e formou. Eu só pagava
pra dizer que fazia, ele gostava do curso. Não via ele desde a pegada na festa
da faculdade, despedida pras férias.
Arranquei
o braço dele da minha cintura. Não ia deixar ele pensar que podia vir marcando
território não! Daqui a pouco ele estava mijando ao meu redor, pra afastar os
outros!
Minha
prima caminhou pra gente, chamando todo mundo pra pegar champanhe. Quase
meia-noite, ela me disse.
Peguei
minha taça e a gente esperou. Senti um perfume estranho, mas não tão estranho
assim. Parecia ao mesmo tempo familiar.
A
mão do carinha foi direto pra minha bunda e deu um tapa, estralou, mas nem
liguei.
Eu
me virei pra cumprimentar o Gugu, só ele podia chegar assim em mim e meu
sorriso meio que vacilou quando vi o amigo gostoso dele. Qual o nome mesmo?
Não importa, vou dar um
capote nesse folgado!
–
Ei, cara! Não sou puta, não!
–
Não disse que era, morena.
Vinquei
o rosto e ia rebater, mas o som do primeiro fogo de artifício me lembrou que
era noite de ano novo. 12:30.
–
Uhul! – Virei a taça e senti o cara por a mão na minha cintura e me puxar. Me
perguntei o que esse demente estava fazendo e senti a boca dele na minha.
Tinha
gosto de champanhe, vodca e algo que parecia menta e chocolate. Ia bater nele,
mas foi tudo tão repentino que nem lembrei de como se agredia alguém até ele me
soltar.
–
Feliz ano novo, morena. – Ele me soltou do mesmo jeito que pegou. Rápido e foi
saindo entre as pessoas. E eu nem lembrava o nome dele!
Isso importa? Eu não
sei o nome da metade dos caras com quem durmo!
Tá,
mais a metade deles não é gostoso que nem esse! É só bonitinho.
–
Gugu qual o nome daquele teu amigo bofe escândalo?
–
O Leo? – Ele me perguntou com aquele olhar sacana de sempre, mas eu não estava
afim de fazer isso hoje, pelo menos não com ele.
–
Isso, Leo!
–
Por quê?
–
Só queria saber, gato!
[…]
Abri
os olhos sentindo uma luz infernal na minha cara. Sentei e senti a areia
grudada nas minhas pernas e até onde não devia.
Gemi
a contragosto, que sol maldito!
Olhei
para o lado só para constar o Gustavinho todo no sol. Todo mesmo!
–
Gugu acorda! Veste isso! Acorda! – O balancei e olhei pra mim.
Arrumei
o vestido e vi os caras da fiscalização acordando todo mundo e prendendo quem
estava pelado.
–
Gugu acorda! – Repeti em tom mais urgente.
Ele
começou a acordar e eu levantei rapidinho.
–
Eles tão vindo, se veste seu retardado! – Comecei a andar calmamente, estava
vestida, não ia em cana, apesar da dor na minha perna.
Ouvi
o Gustavo me alcançar e ele enlaçou os meus ombros. Eu não lembrava de nada de
ontem, mas a gente se pegou ou ele não estaria pelado. Eu acho.
–
Yeah! – Ele disse do nada, era para soar entusiasta, eu acho, mas não rolou. –
Tu vai pra faculdade aquela primeira semana?
–
De jeito nenhum! – Recusei veemente e ele riu. Já sabia que o meu ano só
começava depois do carnaval.
–
Beleza, então…
–
Então o quê? – Perguntei quando ele demorou demais a responder.
–
Você vai na minha festa? – Olhei para ele segurando o riso. Ele parecia
inseguro.
–
No fim do mês? Você sabe que sim!
–
Beleza, só estava confirmando.
Girei
os olhos e ri. Gugu as vezes era como um menino – precisa de pulso forte – para
voltar a agir de forma que condiz com sua idade.
–
Aham, sei. – Zoei com ele.
–
É sério!
Ainda
baguncei os cabelos dele, enquanto entrava no meu carro – um Idea 2014, ganhei
no início do ano passado –, ele ficou esperando e eu sorri, sabia o que ele
queria.
O
selinho da despedida.
Não
me fiz de difícil. Eu não sou tão difícil assim, vá lá também, né? Dei um
beijinho nele, mas estava esperando a agressividade e o sabor estranho de outra
boca.
Sorri
amarelo.
–
Que foi?
–
Só cansada.
–
Quer ir no Barão 3º amanhã?
–
Tá, pode ser.
–
Te busco?
–
Não precisa.
Não
ia dizer que não gosto de me sentir dependente. Isso sempre leva pra um lado
nada legal.
E
me apaixonar não está nem nos pensamentos dos meus pensamentos. Já tive
problemas o suficiente para cair nessa justamente com um cara como Gugu.
Seria
burrice dupla.
–
Então a gente se fala por aí. – Ele falou e eu concordei, ligando o carro e
dando a partida.
Continua…
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada por comentar! Me deixa muito feliz *o*
Se tem dúvidas, pode perguntas quantas vezes quiser e eu responderei assim que for possível~XOXO.