Quase
um mês de novo ano e eu não tinha visto muito o Gugu. Quando eu podia, ele não
podia e quando eu não podia, ele podia. Era 31 de Janeiro, aniversário dele.
Olhei
para o relógio. Gustavo ia me matar, estava mais que atrasada para o
aniversário dele. Retoquei a maquiagem e ajeitei o corselete rosa com detalhes
em prata. A calça jeans azul claro estava do jeito que o Gugu gosta: apertada e
tinha uns rasgos bonitinhos.
Afivelei
a sandália preta e aberta de salto. Me olhei no espelho grande. Depois de
aprovar o look e dar uma arrumada nos cachos que fiz na babyliss e sorri. A
maquiagem realçava a cor esverdeada dos meus olhos e não parecia que eu estava
usando, bem discreta.
Lembrei
do gostoso da festa de ano novo. Será que ele estaria lá? Bom, espero que não
já que vou ficar de pegas com o Gugu.
Mas
porque mesmo que tô ligando para isso? Não é como se eu fosse dar moral para
aquele folgado! Nenhum moleque chega em mim que nem ele e vive para contar
história!
Saí
do meu quarto e vi meus pais fingindo que são a família mais feliz do mundo,
enquanto meu irmão era repreendido por algo que não faço ideia.
–
Mas que linda, filha! – Meu pai elogiou e eu girei. Ainda não engoli essa
história de fazer ADM sem querer.
–
Valeu, pai. Não sei se volto pra dormir, mãe. – Avisei logo antes que ela
decidisse bombardear meu celular no meio da festinha entre quatro paredes.
–
Pois pode voltar! – Meu pai exclamou da cadeira dele e eu arqueei uma
sobrancelha dele. Que merda a família dele tinha feito? Sim, a outra que eu sei
que ele deve ter, porque ele nunca ligava e agora…
–
O quê? – Resolvi perguntar. Meu pai fechou o notebook e me olhou, cruzando os
dedos.
–
Disse que é para voltar sim. E antes de uma da manhã, entendeu? – Bufei, ele
tomou isso como um sim muito do contrariado e abriu o maldito notebook de novo.
Peguei
minhas chaves, meu celular e saí do apartamento dos meus pais, indo para minha
vaga na garagem, pegar meu carro. Liguei o carro e dirigi para lapa.
[…]
Estacionei
na frente da garagem do Gugu. Tirei a chave da ignição e peguei a bolsinha no
banco do passageiro. Desci e entrei na casa de dois andares do tio dele.
Gustavo
era do interior do Rio, morava aqui com o tio na marra porque estava doido para
morar sozinho.
Eu
sabia disso porque era sempre nós dois falando de decoração e vendo
apartamentos como um suposto casal.
Entrei
na casa e vi logo ele vir me cumprimentar. Sorri quando ele checou meu visual e
girei, quando ele chegou perto o suficiente para ver os detalhes.
–
Gostou?
–
Você demorou, sua sacana!
–
Estava me arrumando. – Fiz um bico e vi ele olhar para a minha boca e depois
para o meu rosto. – Não ficou feliz? – Perguntei fazendo charme, ele suspirou.
Parecia estranho.
–
É… claro! – Sorri mais feliz que ele reconheceu o que eu já sabia e dei um
selinho nele. Hoje eu ia ceder bem facinho só porque era aniversário dele.
Uma
mina chegou me encarando feio e olhei para trás, quando vi que só tinha a porta
atrás de mim saquei que era mesmo eu.
–
Oi! Quem é ela, Guguzito? – Ela sorriu, mas foi frio. Retribuí com meu melhor
sorriso sarcástico.
Guguzito?
Quantos anos essa ninfetinha tem? Doze? É, acho que dancei nessa. Perdi a minha
foda semanal.
–
Sou Patrícia. A…
–
Minha melhor amiga. Estudamos juntos. – Levantei uma sobrancelha para ele. Tá,
entendi. Realmente ele tá criando essa criatura.
A
guria tinha irritantes cabelos louros e olhos castanhos, até que era bonita. O
corpo todo no lugar, mas trocar euzinha por isso? É quase uma ofensa!
E
ainda por cima tinha que ser uma ninfeta com cara de criança? Me trocar por
isso é sacanagem.
–
Ai, você me desculpa viu… Qual seu nome, anjinho?
– Perguntei mais fria do que gelo. Eu senti meu tom e não estava a fim de ser
amigável.
–
Clara, querida. – É, a pirralha da
perereca de fogo me respondeu no mesmo tom.
–
Ok, Clara. Nós sempre nos tratamos assim. Não sabia que ele estava de babá hoje
ou jamais teria dado uma bitoca nele.
–
Babá porque? Só porque não sou uma anciã? – Mordi a língua para não descer a
porrada na guria. Quem ela acha que é?
–
Babá porque trocar fraudas de uma loura oxigenada não é exatamente o que ele
gosta de fazer, se é que me entende.
Ela
inflou e ele me fuzilou. Levantei os ombros como quem diz “Ela mereceu.” e a
pirralha oxigenada saiu furiosa, casa adentro e ele seguiu irritadiço, atrás, e
claro, não sem antes me dar um olhar que dizia que a gente ia conversar.
Caminhei
para a mesa e peguei um copo. Bebi a gelatina alcoólica de framboesa e peguei
mais uma, indo para a varanda do primeiro andar.
Abri
a porta e senti o vento no meu rosto. Era gostosa a sensação do vento passando
pelo meu rosto em fogo. A discussão de lá em baixo estava me mantendo quente,
enfurecida.
Soltei
as portas e fui para a varanda, definitivamente. Me escorei na grade e fechei
os olhos, sentindo o vento balançar meu cabelo.
Droga!
Perdi minha foda de sempre. Agora ia ter que ficar pulando de galho em galho de
novo.
Suspirei.
Não acredito ainda que a culpa é de uma guria tão sem sal. Senti um cheiro
conhecido e duas mãos na minha cintura.
Olhei
o sem noção e lá vinha aquele gostoso de novo. E cara, que saudades! Eu nem sei
porque, mas parecia que eu estava esperando encontra-lo aqui hoje.
Eu podia transar com ele
hoje.
Não
ia ser perda de tempo. Ele era bonito. Tinha os olhos mais lindos que eu já vi.
Não eram pretos, todo mundo diria que eram, mas eu conseguia ver que eram
castanhos, bem escuros.
Ele
sorria com eles.
Mordi
a boca e senti isso pouco tempo depois. Ele passou o dedo na minha boca e
desprendeu a carne dos meus lábios.
–
Não. – A respiração faltou, ele tinha mãos com calos. Eu senti eles enquanto
ele segurou com as duas mãos, o meu rosto.
Acabei
fechando os olhos, meu coração batia forte e eu não conseguia pensar enquanto
ele assoprou a minha boca. Senti aquele cheiro de menta de novo e a boca dele
se sobrepôs a minha.
Não
era gentil. Era exigente, duro e eu queria mais. Ele me colocou na grade da
varanda e eu o empurrei levemente.
Não
queria que se afastasse, mas tinha que me impor.
–
Não cara, não gosto disso. – Ele arqueou a sobrancelha bem feita e castanha,
segurei um suspiro. Ele estava puro charme.
–
De beijar? – Girei os olhos. Ele estava brincando comigo. Com meus sentidos.
–
Não. – Ele riu, sabia que ele tinha entendido. – Não pode chegar aqui e tentar me pegar. Não sou assim, cara.
Desencosta. – O empurrei mais. Ia acabar caindo nas graças desse cara lindo e
não queria fazer isso.
Mentirosa!
Minha mente gritou. E eu quase suspirei de frustração quando ele realmente se
afastou.
Era para insistir,
palhaço!
Senti
falta da calor e do cheiro dele. Ele era cheiroso demais. Ele continuava
sorrindo e eu aqui, pendurada no parapeito da varanda querendo voltar e dar uns
beijos nele.
–
Faz tempo.
Tentei
lembrar do ano novo. Tá, ele te beijou, você beijou de volta e não, não transei
com ele. Pelo menos a única coisa que eu lembro é do Gugu me pegando na areia e
a gente se arranhando. Depois só lembro de acordar no outro dia com a sensação
de ter temperado a minha vagina com
areia.
–
Faz. – Comentei, simplesmente.
Não
queria admitir que tinha sentido falta dele. Eu sei que tinha sentido, e muita!
E isso era irracional. Ele era só muito gostoso, lindo, desejável, cheiroso…
Decidi
deixar de parecer uma retardada virgem que conhece o primeiro cara gostoso e
desci do parapeito. Passei por ele e fui descendo. Pra mim, essa festa já deu.
Fui
no Gustavo me despedir, não ia deixar ele achando que tinha perdido o
aniversário, de qualquer forma.
–
Mas, já? – Ele perguntou e parecia que sentia muito. Bom… a namorada dele não
parecia sentir tanto.
–
Pois é, cansada. – Menti.
–
Vai pra Macainá? Ouvi dizer que as festinhas de carnaval de lá vão ser da hora.
–
Vou sim. A gente vai com o Samuca e a Cris.
–
Beleza, a gente se vê então na Calisto amanhã a noite? O João falou que vai ter
luau lá.
–
Tá, vou ver o que consigo com meu pai.
Ele
fez uma cara de que sabia que não ia ser fácil eu sair de novo. Agora meu pai
encasquetou de querer me controlar. Até parece que eu sou a chapada da família.
Tirei
meu cigarro de dentro da bolsinha e o acendi. Traguei e senti alguns dos meus
músculos relaxando. Caminhei para fora sem pressa, as sandálias incomodando um
pouco. Ia tirar assim que entrasse no carro.
Nenhum
dos caras reparou em mim, estranho.
E
foi aí que eu vi ele de novo. A pose igual a do dia que conheci ele, encostado
no meu carro – ele não devia saber que era meu, o carro parecia de homem –, os
braços cruzados e eu soube que ele malhava um pouco, uma perna esticada e a
outra dobrada apoiando o corpo – que parecia uma delícia dentro do jeans e da
blusa cinza.
–
Já vai, Pat? – Me perguntei como diabos ele lembrava do meu nome.
Não
me importei tanto assim, só fez meu coração acelerar. Metade dos caras com quem
eu fico não lembra meu nome ao fim do primeiro beijo, que dirá depois do
primeiro fora.
Não
foi o primeiro fora que dei nele.
E
ele ainda lembra do meu nome.
–
Quer carona? Ou também não gosta disso? – Ele riu, estava fumando.
Era
o mesmo cigarro que o meu, o blackdevil chocolate e baunilha. Estranho. Ninguém
fuma esse cigarro. Encarei o cigarro e depois ele de novo. Apertei o controle
do meu carro, ele riu e desencostou.
–
Gosta de uma tragada, Pat?
–
De vez em quando. – Ou quando meu pai tá em casa, mas não ia dizer isso. Fumo
para desestressar, e ninguém precisa ficar sabendo disso.
–
Vai para casa? – Ele perguntou jogando a bituca do cigarro fora.
–
Você vai? – De jeito nenhum que eu estava dizendo onde ia para esse daqui. Me leva!!! Me leva que eu vou onde você
quiser!
–
Não. Vou para o Barão. Tá cedo pra dormir. – Ele riu enquanto eu aquiescia.
Estava cedo mesmo, mas meu pai foi categórico ao me lembrar de chegar antes da
uma da manhã. – Desculpa a pergunta, mas quantos anos você tem?
–
Dezenove. Faço vinte em Abril.
–
Hum… Áries? – Olhei para ele. Que homem sabe os signos? Será que ele… não, ele
é muito charmoso para ser bissexual. Não é como se eles conseguissem esconder
muito bem como são.
–
É de abril também?
–
Minha mãe é. Sou de novembro.
Hum,
sagitário. Meu céu em signo. Mordi o lábio inferior não querendo ir para casa.
–
Quer vir comigo?
–
Ih, nem dá. Outra parada. – Chamada pai muito, muito bravo em casa. Mas é claro
que eu não ia dizer isso.
–
Tá. Pena, na verdade. – Ele aceitou de primeira. Como assim? Era para
insistir!!!
–
Ok, tchau! – Joguei o cigarro fora, entrei no carro e ele bateu no vidro.
Baixei as janelas e comecei a tirar as sandálias, meio abaixada.
Eu
sentei de novo e olhei para a janela. E lá veio ele, aqueles olhos perfurando o
meu rosto e eu senti a boca dele, quente, molhada, com gosto de cafeína doce
contra a minha boca. Fechei os olhos e senti a língua dele aqui na minha,
enrolando e explorando e assim como começou, terminou. Foi o melhor beijo
roubado da história dos beijos roubados.
Ele
piscou e se afastou. Era a minha deixa. Tinha que ir embora, não tinha
desculpa. Liguei o carro e a hora no painel fez meu coração martelar no peito.
Ia ter castigo, já era 1:33 da madrugada.
Droga, meu pai vai me
matar! E eu não entendo muito bem o motivo, mas não estava
ligando tanto assim.
Saí
da garagem e fui calminha. Não ia acelerar para chegar mais rápido. Vi um cara
numa moto atrás do meu carro, dei passagem, o lesado não passou. Então que mofe
atrás do meu possante!
Estacionei
na frente do meu AP. Não tinha problema deixar aqui e desci com as sandálias na
mão esquerda, a chave na mão da direita. Ouvi uma buzina. Olhei e vi eletirando o capacete.
–
Tá entregue, princesa.
Fiquei
fula. Era eu sabendo que tinha que entrar e ele indo piranhar no Barão. Cogitei
ir. Era isso. Eu ia lá.
E
não, eu não sei porque é importante, mas esse carinha está me tirando o sono e
eu não recuso uma boa aventura.
Apertei
o controle, pronta para entrar no meu Citroen e meu celular toca no bolso da
calça. Olhei o visor e bufei. Olhei para cima e meu pai deu um “alô” com cara
de quem manda você entrar e se eu fosse mais inteligente, não teria olhado e
nem atendido.
Pena
que eu não sou.
Foi
por isso que entrei no carro e dei a ré. Ele disse que ia para a Barão, eu vou
também então!
O
celular vibrou, ouvi o toque no silencio do carro e olhei de relance. A foto da
minha prima reluzindo e sabia que era sério, ela não ficava me ligando de noite
para conversar besteira.
Parei
o carro no quadradão e atendi o celular, suspirando. Queria ir logo para lá e
ficar com o lindo do Leonardo.
─
Fala prima.
─
Terminamos. – Droga! De novo não!
─
Dessa vez é para sempre? – Perguntei só para ter certeza e ouvi ela fungar do
outro lado.
─
Acho que sim. Vem para cá? Por favor!
Segurei
a bufada e concordei. Nenhum cara vale minha amizade com a Cristina. Somos
quase como irmãs.
Eu
tenho um irmão mais novo, mas é com ela que eu conto quando preciso e agora ela
precisa de mim.
Voltei
a repetir na minha mente “Nenhum cara vale a minha amizade com a Cris” e isso
valia até mesmo para aquele monte de gostosura que era o tal do Leonardo.
Entrei
na via de novo e dirigi para a casa da Cris, no final da avenida Zelos.
Continua…
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